O futuro do carro e da mobilidade será compartilhado e autônomo

O futuro do carro e da mobilidade será compartilhado e autônomo

Estudiosos apontam que caminhamos para o compartilhamento de todos os modais de transporte, incluindo os veículos que andam sozinhos

Quando se fala em futuro da mobilidade é comum alguns imaginarem cenários de filmes como Star Wars ou desenhos animados, como os Jetsons. Mas o nosso papo hoje ainda vai manter as quatro rodas no chão, apesar de já adiantar muito do que virá nas próximas duas décadas.

O futuro é elétrico, conectado, compartilhado, autônomo e sustentável. Estamos entrando em uma nova era de mobilidade, com a chegada de tecnologias como o 5G e a Internet das Coisas. Isso vai permitir, em pouco tempo, que veículoscasas, tudo seja totalmente conectado e isso traz diversas novas possibilidades”, descreve João Veloso Jr, head de comunicação corporativa do BMW Group Brasil. Claro que essa projeção leva em conta um local com a infraestrutura necessária para atender os carros autônomos.

E como a forma em que as pessoas irão se locomover nos próximos anos deve ser um tema de interesse geral, a gente apresenta este especial sobre o futuro da mobilidade, que será dividido em duas matérias com dados muito interessantes para você repensar um pouco o seu “ir e vir” de todos os dias. Afinal de contas, cidades mais bem organizadas, e com meios de transporte eficientes, reduzem o prejuízo ao meio ambiente – e a nossa saúde, também. Bora falar sobre o que nos espera para os próximos anos?

Este perfil de automóvel é conectado, capaz de ler as faixas e sinalizações da via — incluindo buracos, obras, pedestres, animais, ciclistas e outros veículos — que dirige absolutamente sozinho através de seus radares e sensores. Parece magia ou algo do próximo século, mas a verdade é que, em breve, veremos cada vez mais veículos andando “sozinhos” por aí, finalmente trazendo o real significado para a palavra “automóvel”.

O que pode adiantar ou atrasar a disseminação dessa nova tecnologia é a infraestrutura do lugar onde ela será inserida. “O futuro da mobilidade vai depender muito da sociedade sobre a qual estamos fazendo essas projeções. Em cidades de países mais desenvolvidos, teremos um cenário que não é exatamente o que vai acontecer em países como o Brasil”, afirma Roberto Marx, professor do Departamento de Engenharia de Produção da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (POLI/USP) e coordenador do MobiLab, Laboratório de Estratégias da Indústria da Mobilidade.

De acordo com o professor da POLI,  a desigualdade social, especialmente de renda, sempre terá impacto sobre a mobilidade, por isso é provável que o Brasil não esteja alinhado com países onde a sociedade é menos desigual. “Hoje temos uma parcela substantiva da população que anda quilômetros de casa ao trabalho, pois precisa economizar em passagem de ônibus e metrô. Se nem passagem pode adquirir, o que dizer de carro, bicicleta ou moto elétricas? A imensa desigualdade social tem impactos sobre a mobilidade”, afirma Marx.

Entretanto, a nova tecnologia trará a possibilidade, por exemplo, que um mesmo automóvel seja compartilhado por diversas pessoas durante um dia, levando-as para destinos diferentes. E tudo isso sem precisar de motorista.

Veja este exemplo: atualmente, um carro serve, na maioria das vezes, para uma única pessoa ir e voltar do trabalho durante a semana e para passear nos dias de folga. E a rotina desse carro se resume a ir até o trabalho, esperar o proprietário terminar o seu expediente — ficando parado por mais de oito horas — e depois retornar até a residência e ficar mais algumas horas parado até o dia seguinte.

Com o carro autônomo, será possível programar uma corrida até o trabalho e outra de volta para casa. Nesse período em que a pessoa ficou no escritório, esse mesmo veículo poderá atender a outros chamados. Um serviço igual ao de aplicativos como o Uber, mas com um detalhe a menos: o motorista. “As novas tecnologias podem trazer muitos novos clientes e até permitir, por exemplo, pessoas sem habilitação em um veículo totalmente autônomo”, argumenta Veloso.

Desta forma, a quantidade de veículos tende a diminuir, uma vez que um carro vai suprir as necessidades de mobilidade de vários consumidores através do compartilhamento. E mais: os acidentes de trânsito sofrerão uma redução drástica, pois os carros estarão conectados entre si e falhas humanas não existirão. Mais ou menos como funciona com o tráfego aéreo, em que um avião se comunica com o outro para que não se choquem.

Internet das Coisas
A conexão entre os automóveis, sejam carros, ônibus, caminhões ou motocicletas, se dará através da Internet das Coisas (IoT, do inglês Internet of Things). Com ela, atualmente, os carros já se comunicam com casas inteligentes e, por meio da expansão do 5G, as cidades estarão totalmente conectadas, o que tornará a administração do trânsito mais fácil.

“Os veículos conectados tendem a fazer rotas menos congestionadas, oferecendo mais dados para os demais veículos e para as autoridades de controle. Assim, elas poderão melhorar o fluxo de uma maneira geral, o que vai ajudar na gestão do trânsito nas cidades”, afirma o coordenador do MobiLab.

E vai ser através da construção de um gigantesco banco de dados — que será alimentado pelos automóveis autônomos — que o transporte passará por uma revolução. “A inclusão do carro, ônibus e metrô na Internet das Coisas será importante para que as informações contribuam para facilitar a vida de todos. O cidadão que pretende sair do ponto A ao ponto B, por exemplo, utilizará aplicativos gratuitos contendo informações precisas de meios de transporte à disposição, horários de saída e chegada, tempo total do trajeto e preços gastos nos vários modais de transporte, o que já vem ocorrendo em Nova Iorque e cidades vizinhas”, comenta Cristiano Baratto, presidente do Instituto de Estudos de Transporte e Logística (IET).

E tudo isso só será possível com a quinta geração de internet, a 5G, muito mais rápida e eficiente que a atual (4G). “Com a chegada do 5G, a Internet das Coisas será uma nova revolução, em que cada vez mais sistemas irão aprender com nossos hábitos e interagir com os consumidores. É a chamada Inteligência Artificial que vai permitir que diversos tipos de aparelhos (TV, geladeira, casa, carro, etc.) aprendam, raciocinem e processem informações como humanos. E este é o ponto de partida para a direção autônoma total”, defende o head de comunicação corporativa da BMW.

Apesar de tantas possibilidades de transporte — como patinetes, scooters, bicicletas, drones tripulados e muitos outros que devem surgir —, o carro não vai deixar de ter a sua importância. Segundo o professor Roberto Marx, nos países desenvolvidos, espera-se que o carro seja um complemento, ou seja, uma alternativa entre outras que vão ser colocadas à disposição do usuário. “Espera-se que o transporte de massa ganhe importância e seja mais considerado. As redes de veículos por trilho devem ganhar relevância de maneira que o carro tenda a ser uma opção para viagens, para parcelas mais ricas da população, que poderão se dar ao luxo de ter um carro para percorrer circuitos mais curtos ao longo da semana, enquanto a população tenderá, em geral, a utilizar serviços públicos”, conta.

Cidades inteligentes (ou smart cities) também serão capazes de coletar dados e usá-los de forma eficiente. “As smart cities privilegiarão o transporte sustentável, a otimização de recursos, e por isso, o compartilhamento de veículos estará na pauta de cidadãos, empresas e do Poder Público”, argumenta Baratto.

Especial mobilidade no futuro

Nesta primeira parte da reportagem especial sobre o futuro da mobilidade, a gente trouxe informações sobre como é o funcionamento do carro autônomo e como ele dependerá da Internet das Coisas para escolher as melhores rotas. Nossos especialistas e pesquisadores contaram também como deve ser a utilização dos diversos meios de transporte em um mundo conectado.

A mobilidade urbana intermodal vai depender bastante do carro, ele não vai deixar de existir, mas pode ser que a forma de usá-lo mude bastante. E é isso que será abordado na segunda parte deste especial sobre mobilidade e o carro do futuro, na qual vamos explorar o compartilhamento dos automóveis e como isso deve afetar diretamente a venda de carros novos. Será que as montadoras estão preparadas para encarar um menor volume de emplacamentos?

Fonte: start.youse.com.br

Por: Vinicius Montoia

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